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O RAPTO DE ISMÊNIA SANTOS

(Um caso de amor na história do teatro caetiteense.)

por Bartolomeu de Jesus Mendes

A Caetité dos tempos passados foi realmente um centro de cultura, cujos habitantes na sua maioria, eram dados às letras, à boa música e à arte teatral. De início, as representações teatrais eram realizadas em qualquer recinto (praça pública ou quintal particular) da antiga vila, encenando, principalmente as COMÉDIAS. Em 04 de fevereiro de 1811, a vereação determinou o festejo do "Feliz casamento da princesa, Nossa Senhora, com o Infante de Castela com cerimônias religiosas, cavalhada e comédia". Vemos, por aí, que a cavalhada e a comédia já integravam os costumes do povo caetiteense daquela época. Os AUTOS, as TRAGÉDIAS eram encenadas aqui pelos portugueses para matar a saudade que sentiam de sua pátria e de suas famílias, já que, muitos deles, vinham para cá sozinhos. O teatro, mesmo não possuindo edifício próprio para espetáculos, teve, por aqui grande desenvolvimento, ganhando vasto repertório, firmando-se como fonte de inesgotável diversão. Sob a direção de ensaiadores competentes, que ensinavam a declamação, a inflexão da voz e o mais necessário para as interpretações das obras dos autores clássicos, a arte fascinadora de Willian Shakespeare (1564-1616), expandiu-se por aqui, causando uma verdadeira revolução teatral.

Caetité, dado a sua vocação para o Teatro, ganhou o apelido de "Athenas Brasileira". Já nos anos trinta do século dezenove, um espetáculo dramático se fazia em um recinto fechado nesta cidade (Vila, na época), como a encenação que aconteceu dentro dos muros de uma propriedade, no Largo da Câmara, quando, na oportunidade um poetas caetiteenses MANOEL CARLOS DE GOVEIA, indignado com a dominação da elite da época, recitou um poema fazendo-lhe severas críticas. Após a declamação o teatrinho foi esvaziado e o poeta processado, como sempre acontece, ainda hoje, com todos aqueles que a tal se propõem.

Tempos depois, foi construído um velho e inibido edifício para apresentações teatrais de nome "Teatro dois de Julho", na antiga rua de São Benedito (atual rua Barão), bem no local onde mais tarde se edificou o "talho" (açougue Municipal). Neste pequeno teatro foi exibido, pela primeira vez em 1870, o drama "O Designado" de Marcelino José das Neves - na oportunidade, o autor foi calorosamente aplaudido ao lado de sua genitora. O Teatro Dois de Julho que foi construído no lugar do Talho Municipal, era também chamado, pelo povo, de "Teatro São Caetano" por ter sua área rodeada por uma planta denominada de "melão de são Caetano" - numa espécie de brincadeira, talvez, pelo desleixo a que estava sendo relegado.

Depois, com o crescimento do fluxo de espectadores ao "Teatro São Caetano", foi construído um outro Teatro que também recebeu o nome oficial de "Teatro Dois de Julho", na lateral esquerda ao fundo da catedral, no mesmo local onde mais tarde foi levantado, sob a liderança de Durval Públio de Castro, o magnífico TEATRO CENTENÁRIO (lugar onde hoje se encontra a agência do Bradesco). Este teatro foi, posteriormente, abandonado e destruído num espaço de tempo equivalente a várias administrações municipais.

A Companhia de Teatro Bramon em Caetité[]

Dentre os grupos teatrais que chegavam à Caetité, além daqueles que foram criados pelos seus próprios habitantes, merece destaque, pela história de amor que ali se desenrolou, a "Companhia de Teatro Bramon". O seu dono era um senhor argentino conhecido pelo nome de Bramon. A atração principal desta companhia, pelo menos para os jovens caetiteenses, era uma filha de Bramon de, aproximadamente, 20 anos de idade cujo nome era Ismênia Santos. Essa jovem, despertou paixões nos corações dos varões que iam assistí-la no picadeiro, em suas danças e acrobacias, com suas pernas roliças e quadris torneados, quase descobertos sob uma pequena saia de pregas, apoiada sobre uma curta "fofoca" com elásticos ligando-a às coxas. Era mesmo irresistível aquela "menina veneno". Logo acendeu, com o fogo de sua sedução, uma chama abrasadora de insuportável paixão, desequilibrando um jovem caetiteense, "de boa família", que a raptou com ajuda de um escravo, levando-a para longe. Foi um escândalo! A cidade encheu-se de tristeza. Se para as esposas aquele rapto acenava com um pouco de tranqüilidade, para os fracos e vulneráveis esposos significara um grande desfalque nas suas fantasias sexuais. E, assim, os espetáculos perderam as concorridas freqüências. Sem a encantadora Ismênia, bailando e rodopiando no picadeiro, não havia mais graças. Sr. Bramon desesperou-se e, como um louco, abandonou a Companhia e saiu pela região a procurar a filha. Nunca mais voltou!

O rapto de Ismênia não se restringiu, apenas, aos adultos compromissados ou não. Os rapazes, jovens postulantes, sonhadores em potencial, também alvejado pela flechada certeira do anjo caçador cupido sentiram-se ludibriados e interrompidos nas suas fantasias juvenis. O horror e a revolta também os dominaram. Por um grande tempo, nas conversas formais e informais, era este o assunto principal: o rapto de Ismênia! Para onde teria sido levada a Ismênia, a dançarina do picadeiro e a musa dos corações? Seria possível ainda o seu retorno? - por muito tempo fora alimentada essa possibilidade. Entretanto, com o tempo as buscas foram, gradativamente, deixadas e a esperança abandonada. E, como sempre acontece, a cidade fora entrando no seu ritmo normal. Isto aconteceu por volta de 1869. Quanto à Ismênia Santos, a jovem sedutora nascida no ano de 1848 e que, em fins de 1868 já encontrava em Caetité, mais tarde, em julho de 1918, aos 70 anos de idade, falecia em Niterói, no Rio de Janeiro. Restando, apenas, em Caetité, Terra de Senhora Sant'Ana, a indelével e escassa memória de sua passagem.

Notas[]

  • Texto de Bartolomeu de Jesus Mendes - Academia Caetiteense de Letras - Caetité - 2010 - Todos os direitos pertencem ao Autor
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